Caminhos



Ficámos parados. Por vezes quase parece que ainda tocamos as mãos um do outro para ter a certeza que nenhum avançou.


Difícil quando não se sabe o caminho que se quer fazer.
Apenas se conhece o que não se quer percorrer.

Não quero perder-te.




Pic.by insure

Instintos


Diz-me,
Também me vês aí,
Nesse oceano interminável?

Eu vejo-te
Na minha rua,
Uma miragem quase palpável.

Este desejo,
Tóxico,
Parece não me deixar respirar…
Tanto me afaga a alma
Como me tira o ar.

Para quê
Procurar-te,
Se não vou ter-te de verdade?

Porque é
Que eu insisto em colar-te
Numa teia de saudade?

Queria tanto responder-te
‘Vem ter comigo’.
‘Quero perder-me em ti
E fazer de ti meu abrigo…’

Sei que entre quatro paredes
Só existimos nós dois.

Mas eu não quero viver
O que vem depois.

Por isso me quedo,

Tentando calar

Todos os instintos

Que em mim têm lugar.




Surpresa



Uma surpresa
De indescritível sabor a saudade.
Imagem de nós dois
Colada à superfície dos meus olhos.
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Se soubesses o quanto eu te quero...
... e o quanto me dói não chamar por ti...
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(obrigada. eu adorei!)
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Pic.by j4d3

VAZIO



Viver com segredos é viver uma mentira?
ou uma meia-verdade?...
E se procurar a verdade for saltar um abismo? Lá ao fundo o vazio… e nós incapazes de querer voltar a experimentá-lo.
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Co-habitam,
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uma antiga paixão [vivida com amor].
Encontrou ecos que a fizeram despertar, de novo. Subiu à superfície da pele e da alma, redescobrindo no desejo uma saudade infinita. Provavelmente será correspondida, mas de que serve? se é neste momento inatingível?
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e um amor [carente de paixão].
Generoso e cúmplice na troca de afectos e de sonhos. Uma união de vidas. Provavelmente correspondido com mais certezas que as que tenho em mim.
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Atropelam-se.
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Viver um Amor sem paixão sabe sempre a pouco quando já se viveu uma Paixão com amor. Viver sem nenhum amor sabe ainda mais a vazio quando já se experimentou ser amado.
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E eu já não sei o que procurar no Amor.
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Amar-te desta maneira é baralhar todas as cartas na mesa. É viver sem nenhuma certeza.
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Pic.by GizMade

TEMPO


Os dias correm pesados, como se demorassem mais a passar. E há uma urgência em que o tempo passe para sentir tudo a acalmar.
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Ainda te tenho tão presente… tão intensamente presente. Devia guardar ao fundo de mim a tua memória. Mas trago-te sempre à flor da pele. Saboreio cada momento que tivemos juntos, de novo. E tudo o que descobri, em ti. Saboreio o amor que senti passar de um para o outro, e que noutros tempos havia sentido viver sozinha.

Um destes dias li numa crónica* sobre O Amor e o Tempo estas palavras: «O problema do amor é o tempo. O tempo é, aliás, o problema de todos os sentimentos e actos da vida, o inescapável fantasma. O amor é a única possibilidade de transcendência temporal que nos é dada - não porque dure toda a vida mas por ser "infinito" enquanto dura, como escreveu Vinicius de Moraes. (…) "Tu és a minha casa, contigo eu sou livre" - diz o amante a Lady Chatterley, no belíssimo filme de Pascale Ferran, inspirado no clássico de D. H. Lawrence. O sexo levou este par de amantes à paixão, a paixão conduziu-os ao amor, a uma visão mais lúcida e radical da existência, e ao êxtase espiritual da liberdade partilhada. Por isso o filme acaba com um sim: "Chamar-me-ás se te sentires infeliz sem mim, mesmo que daqui a muito tempo?" Sim, diz ele. Falta-nos hoje essa capacidade de nos entregarmos primeiro, sem medo, e de cobrir de flores o corpo amado, como se não houvesse outro corpo nem outra terra no mundo - e de então escolher a eternidade infinita desse momento como destino imóvel, para lá das mil circunstâncias e corpos da vida, num simples e imortal sim.»

Acho que nos faltava isso. E de certa forma agora o temos.

Past is history, future is a mystery, and present is a gift… E assim é. Este presente deixa de ser para nós, juntos. Porque as circunstâncias e os corpos da vida reclamam que nos afastemos. E sem vontade nos afastamos. E por ser sem vontade custa tanto. E por custar tanto queria que o tempo passasse mais depressa.

Ainda penso em tudo o que não tivemos oportunidade de viver juntos… abre-se uma janela de sonho, imaginando que hipoteticamente no futuro ainda nos possamos (re)descobrir. Mas o futuro é mistério e o presente faz-se de ausências. Ausência da tua presença, das tuas palavras, do teu corpo, do teu cheiro, teu beijo, do teu toque, da concretização do desejo que nos consome… Quero-te tanto que não o consigo calar. Nem mesmo para te ajudar a fazer de conta que eu não existo.

Mas o tempo há-de passar.

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Pic. “last of our happy summer days” by hbynoe
* O amor e o tempo por Inês Pedrosa

SILÊNCIO



Preguem-me os pés ao chão.
Para eu não ir até ti. Não te procurar.
Não te tocar. Não te sentir.
Talvez fique mais fácil.
Viajar só em pensamento.
E se eu não aguentar,
Pedirei o dom do alienamento.
Para sentir o ar... e respirar.

Tapem-me a boca.
Viciem-me em ausência de palavras.
Ou ensinem-me o dom do silêncio. Oportuno.
Talvez fique mais fácil.
Guardar tudo em mim.
E se eu não aguentar,
Pedirei o dom do conhecimento.
Para procurar espaço... onde encaixar a vida.


Mas esquecer-te, não sou capaz.
Nem apagar o que ficou para trás.
Se a única forma de te ter em mim
Acaba agora por ser assim…
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.
.

Todos os outros sons cessaram…


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“Even if its eyes lay open wide, there is a heart that sleeps inside. And it's to there you must be hastening. For all hearts dream, they dream only of awakening.”


Quero adormecê-lo,
Sabendo que um dia voltará a sonhar… acordar.




Pi.by
Lara Swift
Citando: The Million Dollar Hotel.

Encontros Perfeitos… Contigo.


e agora?
na imperfeição da tua ausência,
sabendo não mais te ter…

o que é que eu faço
para acalmar o meu sentir?


Pic.by hbynoe

um dia



Pic.by Nicola - Encontros Perfeitos